terça-feira, 17 de janeiro de 2012

A importância da maturidade afetiva na vida a dois‏

 
 
shalomA importância da maturidade afetiva na vida a dois
2011-06-25 07:27:00
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Nos dias atuais em que existe um verdadeiro culto ao egocentrismo e ao hedonismo, constatamos um número cada vez maior de separações, apesar de crescer o número de casamentos. Dom Rafael Llano Cifuentes faz uma excelente reflexão sobre a importância da maturidade afetiva para a manutenção da união conjugal feliz. Apresentamos na íntegra, o seu artigo sobre o tema, uma vez que traz um conteúdo muito rico para os casais.

A afetividade não está, por assim dizer, encerrada no coração, nos sentimentos, mas permeia toda a personalidade. Estamos continuamente sentindo aquilo que pensamos e fazemos. Por isso, qualquer distúrbio da vida afetiva acaba por impedir ou, pelo menos, entravar o amadurecimento da personalidade como um todo.

Observamos isso claramente no fenômeno de “fixação na adolescência” ou na “adolescência retardada”. O adolescente caracteriza-se por uma afetividade egocêntrica e instável; essa característica, quando não superada na natural evolução da personalidade, pode sofrer uma “fixação”, permanecendo no adulto: este é um dos sintomas da imaturidade afetiva.

É significativo verificar como essa imaturidade parece ser uma característica da atual geração. No nosso mundo altamente técnico e cheio de avanços científicos, pouco se tem progredido no conhecimento das profundezas do coração, e daí resulta aquilo que Alexis Carrel, prêmio Nobel de Medicina, apontava no seu célebre trabalho O homem, esse desconhecido: vivemos hoje o drama de um desnível gritante entre o fabuloso progresso técnico e científico e a imaturidade quase infantil no que diz respeito aos sentimentos humanos.

Mesmo em pessoas de alto nível intelectual, ocorre um autêntico analfabetismo afetivo: são indivíduos truncados, incompletos, malformados, imaturos; estão preparados para trabalhar de forma eficiente, mas são absolutamente incapazes de amar. Esta desproporção tem consequências devastadoras: basta reparar na facilidade com que as pessoas se casam e se “descasam”, “juntam”-se e se separam. Dão a impressão de reparar apenas na camada epidérmica do amor e de não aprofundar nos valores do coração humano e nas leis do verdadeiro amor.

Quais são, então, os valores do verdadeiro amor? Que significado tem essa palavra? O amor, na realidade, tem um significado polivalente, tão difícil de definir, que já houve quem dissesse que o amor é aquilo que se sente quando se ama, e, se perguntássemos o que se sente quando se ama, só seria possível responder simplesmente: “Amor”. Este círculo vicioso deve-se ao que o insigne médico e pensador Gregório Marañon descrevia com precisão: “O amor é algo muito complexo e variado; chama-se amor a muitas coisas que são muito diferentes, mesmo que a sua raiz seja a mesma”.

A imaturidade no amor

Hoje, considera-se a satisfação sexual autocentrada como a expressão mais importante do amor. Não o entendia assim o pensamento clássico, que considerava o amor da mãe pelos filhos como o paradigma de todos os tipos de amor: o amor que prefere o bem da pessoa amada ao próprio. Este conceito, perpassando os séculos, permitiu que até um pensador como Hegel, que tem pouco de cristão, afirmasse que “a verdadeira essência do amor consiste em esquecer-se no outro”.

Bem diferente é o conceito de amor que se cultua na nossa época. Parece que se retrocedeu a uma espécie de adolescência da humanidade, no qual o que mais conta é o prazer. Esse fenômeno tem inúmeras manifestações. Referir-nos-emos apenas a algumas delas:

- Edifica-se a vida sentimental sobre uma base pouco sólida: confunde-se amor com namoricos, atração sexual com enamoramento profundo. Todos conhecemos algum “Don Juan”: um mestre na arte de conquistar e um fracassado à hora da abnegação que todo o amor exige. Incapazes de um amor maduro, essas pessoas nunca chegam a assimilar aquilo que afirmava Montesquieu: “É mais fácil conquistar do que manter a conquista”.

- Diviniza-se o amor: “A pessoa imatura – escreve Enrique Rojas – idealiza a vida afetiva e exalta o amor conjugal como algo extraordinário e maravilhoso. Isto constitui um erro, porque não aprofunda na análise. O amor é uma tarefa esforçada de melhora pessoal, durante a qual se burilam os defeitos próprios e os que afetam o outro cônjuge [...]. A pessoa imatura converte o outro num absoluto. Isto costuma pagar-se caro. É natural que ao longo do namoro exista um deslumbramento que impede de reparar na realidade, fenômeno que Ortega y Gasset designou por “doença da atenção”, mas também é verdade que o difícil convívio diário coloca cada qual no seu lugar; a verdade aflora sem máscaras, e, à medida que se desenvolve a vida ordinária, vai aparecendo a imagem real” (E. Rojas).

- No imaturo, o amor fica “cristalizado”, como diz Stendhal, nessa fase de deslumbramento, e não aprofunda na “versão real” que o convívio conjugal vai desvendando. Quando o amor é profundo, as divergências que se descobrem acabam por superar-se; quando é superficial, por ser imaturo, provocam conflitos e frequentemente rupturas.

- A pessoa afetivamente imatura desconhece que os sentimentos não são estáticos, mas dinâmicos. São suscetíveis de melhora e devem ser cultivados no viver quotidiano. São como plantas delicadas que precisam ser regadas diariamente. “O amor inteligente exige o cuidado dos detalhes pequenos e uma alta porcentagem de artesanato psicológico” (E. Rojas). A pessoa consciente, madura, sabe que o amor se constrói dia após dia, lutando por corrigir defeitos, contornar dificuldades, evitar atritos e manifestar sempre afeição e carinho.

- Os imaturos querem antes receber do que dar. Quem é imaturo quer que todos sejam como uma peça integrante da máquina da sua felicidade. Ama somente para que os outros o realizem. Amar para ele é uma forma de satisfazer uma necessidade afetiva, sexual, ou uma forma de autoafirmação. O amor acaba por tornar-se uma espécie de “grude” que prende os outros ao próprio “eu” para completá-lo ou engrandecê-lo.

Mas esse amor, que não deixa de ser uma forma transferida de egoísmo, desemboca na frustração e procura cada vez mais atrair os outros para si, e os outros vão progressivamente afastando-se dele. Acaba abandonado por todos, porque ninguém quer submeter-se ao seu pegajoso egocentrismo; ninguém quer ser apenas um instrumento da felicidade alheia.

Reciprocidade
Os sentimentos são caminhos de ida e volta; deve haver reciprocidade. A pessoa imatura acaba sempre se queixando da solidão que ela mesma provocou por falta de espírito de renúncia. A nossa sociedade esqueceu quase tudo sobre o que é o amor. Como diz Enrique Rojas: Não há felicidade se não há amor e não há amor sem renúncia. Um segmento essencial da afetividade está tecido de sacrifício. Algo que não está na moda, que não é popular, mas que acaba por ser fundamental”.

Há pouco, um amigo, professor de uma Faculdade de Jornalismo, referiu-me um episódio relacionado com seu primo – extremamente egoísta – que se tinha casado e separado três vezes. No cartão de Natal, após desejar-lhe boas festas, esse professor perguntou-lhe em que situação afetiva se encontrava. Recebeu uma resposta chocante: “Assino eu e a minha gata. Como ela não sabe assinar, o faz estampando a sua pata no cartão: são as suas marcas digitais. Este animalzinho é o único que quer permanecer ao meu lado. É o único que me ama”.

O imaturo pretende introduzir o outro no seu projeto pessoal de vida, ao invés de tentar contribuir com o outro num projeto construído em comum.  A felicidade do cônjuge, da família e dos filhos: esse é o projeto comum do verdadeiro amor. As pessoas imaturas não compreendem que a dedicação aos filhos constitui um fator importante para a estabilidade afetiva dos pais. Também não assimilaram a ideia de que, para se realizarem a si mesmos, têm de empenhar-se na realização do cônjuge. Quem não é solidário termina solitário, ou juntando-se a uma “gatinha”, seja de que espécie for.

Fonte: Comunidade Shalom

As características da personalidade madura

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1. A segurança emotiva e a percepção realística de si mesmo (auto aceitação)

Indica a capacidade de suportar a frustração, de modo que os estados emotivos não interfiram nos seus atos nem interfiram no bem estar dos outros. Os impulsos emotivos (da agressividade e da sexualidade) são assumidos, integrados e nunca reprimidos.
 
Assim se fará um bom uso destas importantes energias impulsionadoras do crescimento do indivíduo. Esse processo é feito sem grandes perturbações. As frustrações são bem trabalhadas. Os conflitos e tensões, mesmo presentes, não são determinantes e não impedem o desenvolvimento de um autêntico senso de segurança e confiança. A segurança emotiva não consiste apenas na capacidade da suportação das frustrações, mas também na capacidade de trabalhá-las, ou seja, canalizar as energias emotivas para uma causa nobre e não para um perigoso processo de auto destruição.

Possui o senso da proporção das coisas, sabendo correr riscos razoáveis à luz do bom senso, onde a cautela e a prudência caminham lado a lado com a prevenção de expressões de pânico ou de dramatizações exageradas das diversas situações.

É um alguém capaz de exprimir o próprio pensamento, os sentimentos e convicções sem se sentir ameaçado ou sob o efeito do complexo de culpa. O ponto de vista dos outros na sua diferença e peculiaridade não o inibe nem lhe tolhe a liberdade de se exprimir com responsabilidade e no desejo de acertar e ajudar os outros. Sabe respeitar e levar na devida consideração a opinião e os sentimentos dos outros. Por isso, não se sente o dono da verdade nem se apresenta como um oportunista manipulador da opinião da maioria em prol dos próprios interesses. Suas intervenções são sinceras e se fundamentam na sincera busca do bem comum.

Sem perder a força propulsora dos grandes ideais que impulsionam a própria vida, a pessoa é realista e não dramatiza as situações ou experiências desagradáveis. Procura desenvolver um auto controle que não lhe permita de viver ao sabor das variações emotivas ou das imaturidades ou descontroles dos outros. O seu comportamento, substancialmente, não é reativo, mas pró-ativo, ou seja não são os impulsos emotivos imediatos que condicionam a ação a ser tomada, mas os princípios comportamentais que se considera como verdadeiros valores.

Sua vida é marcada pela graça do momento presente. Por isso, não vive o saudosismo improdutivo e paralisante do passado, nem se perde em vãs expectativas ou exagerada preocupação com o futuro. Nem muito menos vive num presentismo onde a vida parece condicionada e fixada no agora, constituído por momentos isolados, desconexos, sem sentido. As raízes profundas fixadas na salutar tradição do passado, com toda a grande riqueza de suas sapienciais heranças.
 
O futuro suscitará antenas sensíveis, para captar os sinais dos tempos, de modo a não faltar uma bem compreendida preparação para o mesmo. Deste modo, a capacidade de programação será um poderoso preventivo para toda espécie de improvisação e de paliativos de última hora. Este mesmo momento presente, vivido intensamente, é também marcado pelo senso do realismo e por uma inteligente capacidade de adaptação às condições climáticas, geográficas, culturais, sociais, políticas e econômicas.
 
Sem deixar de ser ele mesmo, saberá sensatamente adaptar-se às pessoas na sua diversidade, limites e valores. Saberá tirar proveito disso, mas sem manipular as coisas conforme as próprias conveniências. As respectivas exigências destas condições (do ambiente e das pessoas) são harmonizadas com as necessidades do indivíduo. O fato de estar numa determinada situação faz com que a realidade seja assumida assim como ela se apresenta, tentando de transformar o que for possível e assumir integrando na própria personalidade o que não é possível transformar.

Conviverá sem dramas com aqueles problemas que efetivamente ou momentaneamente não apresentam solução satisfatória. Não é um alguém que passa todo o tempo a se lamentar com expressões tais como: “deveria ser assim, ah se eu estivesse com outra pessoa ou noutro clima, ou noutra congregação, ou noutra vocação a situação seria melhor”, etc.
 
Noutras palavras, a pessoa não vive de fantasias, de ilusões, mas a partir da realidade tenta nela encarnar os valores que acredita. Tudo isso, portanto, não significa que haja uma adaptação ou uma adequação passiva do indivíduo ao ambiente como se ele fosse um fruto do meio ou um consumidor parasitário do que lhe é oferecido ou imposto. O comportamento maduro nunca comportará atitudes masoquistas ou marcadas pelo vitimismo. Por isso, marcada por um comportamento resignado e apático, a pessoa imatura sente dificuldade na sua auto superação rumo a níveis mais altos de qualidade de vida, de amadurecimento e de efetivo crescimento.

Ao nível de inconsciente, quando não estamos atentos e inseridos no auto-conhecimento, nós colocamos sobre a nossa identidade as máscaras das quais os atores gregos faziam uso, quando representavam nas tragédias e interpretavam os vários personagens nas peças de teatro.
 
Conforme era a máscara, da mesma forma era a voz e o comportamento. Aquele alguém interpretado não era o mesmo que o interpretava. Quando o senso da verdade de quem somos não é claro ou atuante, colocamos a máscara nas nossas atitudes para corresponder às expectativas dos outros, especialmente das pessoas significativas. Vem à tona este duplo aspecto: o que os outros esperam de mim e aquilo que eu quero apresentar de mim mesmo aos outros.
 
A imagem que o indivíduo quer apresentar de si mesmo é o que tantas vezes prevalece. Se esse desejo de agradar for exagerado, ele acabará sendo um alguém não somente fragilizado, como também condicionado por uma variedade de identidades. Essa duplicidade ou multiplicidade de personalidades, atuadas conforme o momento ou a conveniência, gerará um terrível desgaste psicológico (com repercussões físicas e espirituais) gerando, assim, um notável desperdício de energia psíquica.
 
Certos comportamentos trazem em si o desejo de externar uma boa imagem de si: o esforço de mostrar aos outros, o que se é capaz de fazer, tendo por alvo aumentar a credibilidade e por conseguinte reforçar a auto-estima. O problema é que, quando as coisas começam a andar mal ou quando surgem as contradições e a vida com suas aparências sofrem riscos, a verdadeira realidade que estava submersa ou camuflada vem à baila; e se desmascara a mesma realidade que se tentou esconder.

Porém, como a pessoa ideal não existe e o mito do super-homem ou da mulher maravilha é uma tola ilusão, os limites ou os condicionamentos que estão por trás de certos comportamentos hão de aparecer talvez através de desagradáveis surpresas. Por isso, a segurança emotiva significa também reconhecer os próprios limites, assumi-los com humildade e realismo, importa integrar as sombras, ou seja os elementos negativos da personalidade.
 
Negá-los, camuflá-los, encobri-los poderá gerar uma ilusão desgastante e nociva para a alegria e a serenidade. Manter algo encoberto, sob a pressão implacável do medo nunca há de ser algo positivo. É bem verdade, que, para quem tem valores morais e éticos, e neles acredita, nunca deve desistir de vivê-los, nem deve, erroneamente, em nome da sinceridade, abraçar ou simplesmente viver em conformidade com os próprios impulsos ou as próprias inclinações quando estas revelarem contra-valores na sua forma de expressão.
 
Esse senso da realidade levará a comportamentos equilibrados, balanceados e isento de destemperos, iluminado pelos ditames da razão e transfigurado pela fé. Portanto, nem o fracasso deprime, nem o triunfo leva a euforia.

A pessoa madura não idealiza as demais pessoas. Haverá de encará-las na sua realidade: podem errar de tantas formas e por tantos motivos conhecidos ou encobertos. Deste modo se evitará exigir dos outros aquilo que os outros efetivamente não podem oferecer.

Algumas limitações psicológicas ao nível de insegurança, como a rejeição de toda responsabilidade não deve ser considerada como virtude, mas fuga que nasce de um complexo de inferioridade. Certos medos de se expor ou medos de assumir certos riscos ou a fuga ao enfrentar alguns tipos de problemas pode revelar não tanto humildade, mas imaturidade.
 
A meta de quem se comporta assim é manter-se numa tranqüilidade passiva, compreendida como fuga dos problemas, fuga obsessiva dos conflitos para salvaguardar uma dependência que a impeça de decidir e de pensar com a própria cabeça, assumindo as responsabilidades da decisão tomada.
 
O cuidado obsessivo de não turvar as águas, de não levantar poeira que leva à manutenção de uma «paz de cemitério», mesmo quando a verdade e o bem maior estejam em jogo, pode revelar um perigoso descaso e um comportamento infantil.
 
Talvez se entenda como é perigoso este quadro de religiosos, consagrados e cristãos leigos que buscam na vida comunitária do matrimônio ou da vida consagrada um doce refúgio, um ninho acolhedor para esconder seus medos, seus traumas e recalques bem como acomodar sua frágil personalidade num lugar longe dos conflitos ou desafios desgastantes.
 
O mesmo princípio se pode aplicar no caso de pessoas que procuram a solidão ou o isolamento não por motivações nobres tais como a oração, a contemplação, a atividade intelectual, mas simplesmente para não enfrentar os desgastes e as exigências da convivência com os outros. E este fenômeno tem sido muito comum nos últimos tempos (não querer partilhar o próprio espaço físico, os próprios bens, as próprias idéias e sobretudo a própria vida).

Concluindo...

Parece desafiante e exigente este projeto de maturidade. Talvez, por isso mesmo ele seja bom. Afinal, maturidade não se alcança dando saltos mágicos, mas dando passos, pacientemente, insistentemente. Os desafios serão sempre uma fonte inexaurível de crescimento e de estímulos para melhorar. Basta acreditar e investir.

BOX:
1- “Quando não estamos atentos e inseridos no auto-conhecimento nós colocamos máscaras sobre nossa identidade”.
2- “A pessoa madura não idealiza as demais pessoas”.
3- “Maturidade não se alcança dando saltos mágicos, mas dano passos, pacientemente, insistentemente”.

Pe. Antônio Marcos Chagas
Comunidade de Aliança Shalom
Fonte: Comshalom

A graça do autoconhecimento

shalomFonte: comshalom
- Certo dia, um sacerdote fazia a algumas pessoas uma pergunta que me persegue há quase três anos: “O que mais tem te cansado?” Hoje, faço esta pergunta a você: “O que te cansa? O que tem te estressado? O que tem te tirado, às vezes, a esperança? O que tem te deprimido?” Alguém poderia dizer: “Tenho de cuidar de minha sogra; ela mora comigo e está doente. Estou tão cansado de cuidar dela”.
 
Outro poderá dizer: “O que me cansa é meu marido, que bebe; é o meu filho, que não estuda ou é drogado”. Somos levados a dizer que todas essas coisas nos têm cansado. Mas, quero dizer uma coisa muito importante: somos nós mesmos que nos cansamos. O que nos cansa, o que nos estressa são as constantes lutas que temos dentro de nós mesmos. Daí, a importância do autoconhecimento.
 
À medida que vamos nos conhecendo e, mais do que isso, nos aceitando, nossa vida vai sendo tomada de serenidade, paz e fecundidade muito grande.

Tu me conheces e sabes tudo de mim

Eu gostaria de pegar dois trechos da Palavra de Deus para que pudéssemos realmente entender porque nos cansamos. Cansamo-nos por causa de nós mesmos. O primeiro ponto está em Gênesis (3,9-10), quando Deus, diariamente, ia tomar o café ou o chá da tarde com Adão e Eva e, um dia, Ele chegou e fez essa pergunta: “Onde estás? Tu, que vinhas correndo todos os dias para me ver, para estar comigo, onde estás agora?
 
Por que não corres?” O que Adão responde: “Ouvi o barulho de teus passos, tive medo, porque estou nu e ocultei-me”. Aqui está a razão de nosso cansaço constante: “Tive medo do barulho dos Teus passos e, porque estou nu, escondi-me”. Aqui está todo o trabalho do autoconhecimento sob esses três aspectos: a malícia, a mentira e a insegurança. Isso traz a origem do desequilíbrio de nossa identidade.

O segundo ponto é o Salmo 138: “Tu me perscrutas, Senhor, e me conheces”. Tu sabes tudo de mim: quando me sento, quando me levanto, quando a palavra ainda não me chegou à boca, tu já a conheces toda. Mesmo que eu quisesse fugir de ti e entrasse no mais profundo dos abismos ou no alto das montanhas, tu estarias lá”.
 
Aqui vêm duas coisas lindíssimas em relação ao autoconhecimento: “Tu me conheces e sabes tudo de mim”. Por isso, a chave está em lançar-se nos braços daquele que sabe tudo de mim e que me conhece. A eterna perseguição amorosa de Deus para conosco, dizendo: “Mesmo que tu chegues ao mais profundo das depressões, lá me encontrarás. Se tu quiseres fugir de mim, indo para as mais altas montanhas, eu lá te encontro e persigo”. Aqui está a paixão e o amor de Deus para conosco, que nos leva a ter confiança: “Tu me conheces e sabes tudo de mim”.

As visões
Também, quero falar da importância das visões, das imagens, que nós, da Renovação e da espiritualidade carismática temos, que é a maior forma de Deus falar conosco. Há dois anos atrás, eu fazia um retiro de escuta para nossa Comunidade, e pedia ao Senhor, diante do Sacrário, que desse um presente a cada membro. Fui vendo os presentes que Jesus estava dando a cada um e, a mim, Ele deu uma melancia.
 
Peguei a melancia, mas disse: “Senhor, o que vou fazer com uma melancia?” E fiquei questionando sobre o que aquela imagem significava. Depois, senti-me como uma grande tartaruga. E, por muito tempo, questionei-me acerca dessas duas imagens. Perguntei a Maria o que isso significava. Ela respondeu-me: “Maria Francisca, tu tens o casco da tartaruga, sempre estás na defensiva por causa das tuas feridas, e quando alguém chega perto e te machuca a patinha ou a cabeça, tu entras na tua defesa e ficas ali.
 
Mas esse é um tempo novo em tua vida, Jesus não quer que sejas mais assim; Ele quer que sejas como uma melancia, que qualquer faca pode cortar, e que dentro tem um suco doce, abundante e muitas sementes. O meu Filho te quer assim”. Então, eu disse: “Eu não sei me transformar de tartaruga em melancia, mas isso é um problema para Deus mesmo resolver”.

Nós que somos da Renovação, temos o privilégio de guardar as imagens, os sonhos e dizer: “Senhor, quero saber, fala-me, explica-me, traduz-me”, porque aqui está a maior fonte do autoconhecimento.
Eu ouvia falar muito do Amor de Deus, mas era a palestra que eu nunca queria dar no Seminário de Vida no Espírito. Eu dizia: “Eu sei desse Amor, mas não o experimento. Como posso falar do que não experimento?”
 
Quando estava grávida do Lucas, meu sexto filho, eu disse: “Tudo bem, Pai, talvez eu nunca experimente o teu Amor, mas este filho que estou gerando, eu te suplico, que ele seja o maior apóstolo do teu Amor”. E chorava muito por não acreditar que, um dia, eu fosse experimentar o Amor de Deus, pois há tantos anos pregava sobre o amor de Deus e ainda não o havia experimentado. Nós não podemos mais resistir a Paternidade de Deus. E hoje, a cada dia, eu estou mais apaixonada pelo Amor de Deus e tenho lhe dito: “Eu só quero uma coisa: fazer-te rir; quero te agradar”.
 
Quando estou com uma pessoa que está triste, até que ela esboce um sorriso, não paro de fazer isso ou aquilo para alegrá-la. Sou assim com meu esposo, faço-me, às vezes, de Ofélia, até ele dizer: “Meu Deus, não pode ser”, e começar a rir. Então, quero ser assim com o Senhor também.

É importantíssimo, é fundamental, o entendimento deste “Eu te conheço”, para que possamos aceitar a montanha imunda que caiu sobre nós de malícia, de insegurança e de mentira. Um dia, eu disse a Deus: “Errei de novo, não tenho mais coragem de te olhar, porque errei de novo”.
 
Então, Ele deu-me a imagem de uma criança de seis ou sete meses que, há pouco haviam trocado a fralda e ela novamente a sujara E essa criança era eu. E disse a Deus: “Sujei-me de novo e, rapidamente, Ele pegou-me no colo e trocou-me as fraldas. Então, a cada dia, eu digo: “Como consegue viver aquele que não conhece o Senhor?” Por isso, amados, é importante a confiança no conhecer-se e no aceitar-se.

Há uma outra historinha muito interessante sobre dois vasos: Um monge ia todos os dias à fonte, enchê-los de água, e um sempre chegava ao convento pela metade, porque estava rachadinho; o outro chegava sempre cheio. Um dia, depois de muito sofrimento desse vaso por sentir-se pela metade, ele disse ao monge: “Joga-me fora, porque não estou sendo útil para você. Você se cansa ao ir buscar água na fonte e me trazer até aqui, e quando chega, estou pela metade”.
 
O monge disse: “Querido vaso, quero mostrar-te uma coisa. Como eu sabia que tu estavas rachado e que todos os dias perdias as gotas de água, plantei pelo caminho muitas sementes e a água que tu perdias caía sobre essas sementes e hoje quero te mostrar que lindo caminho tu fizeste”. O lado do vaso quebrado estava cheio de flores e o lado do vaso inteiro não tinha nenhuma flor. Por isso, você, que tem se sentido quebrado, que tem aqueles pecados e aquele vício que não consegue superar, saiba que Deus tem jogado sementes e que você as tem regado com as suas lágrimas, porque as flores espirituais só florescem quando são regadas pelas lágrimas.

Um vermezinho

O Senhor ainda insiste para que eu fale das visões. E a Palavra do Senhor nos diz: “Tu és um pobre vermezinho e um mísero inseto” (Is 41,14). Logo que li isso, não gostei, mas, depois, eu disse: “Tudo bem. Se sou um mísero vermezinho, deixa-me, pelo menos, ficar na unha do teu pé. Não vou incomodar”. Mas, sabe aquelas orações que fazemos e achamos que Deus não presta atenção? Quatro anos depois, eu estava em Joinville, pregando um retiro e, diante do Santíssimo Sacramento, ajoelhei-me e vi o pé de Jesus, e no dedão dele, o vermezinho.
 
E senti que Ele falava ao meu coração: “Como tu pensas que não te escuto?” Fiquei olhando o que aquele vermezinho faria, e ele começou a sair do dedão e foi ao buraco da ferida do prego, no pé de Jesus. Comecei a chorar e aquelas lágrimas caíram no Sangue de Jesus; e percebi que aquele Sangue começou a ser atualizado, virou sangue novo, bom. Eu disse: “Senhor, o que queres dizer?” E tive o entendimento de que todo o esforço do autoconhecimento vai trazer muitas lágrimas, mas essas lágrimas de dor caem porque se busca o amor, porque quem quer se autoconhecer tem o objetivo de chegar ao amor. Essas lágrimas têm o poder de renovar e de atualizar o sangue de Jesus.
Entendi tudo: o Sangue de Jesus para aqueles que não passam pelo sofrimento e pela dor do autoconhecimento em Deus, é coagulado. Mas aqueles que choram a dor da sua própria história de miséria, de verme, têm o poder de atualizar o Sangue de Jesus Cristo. E em cada passo que damos, em cada momento que vivemos, somos curados e entramos no processo de ressurreição. A ressurreição não acontecerá de repente, ela vem à medida que as áreas do nosso ser entram naquele “Tu me conheces”, no equilíbrio e na identidade de filhos de Deus; no ser semelhante a Deus. Como é bonita nossa fé!

É importante saber que já estamos ressuscitados, que já estamos vivos e os verdadeiros adoradores, em espírito e em verdade, são aqueles que estão em processo de ressurreição. Essa ressurreição que acontece é o verdadeiro autoconhecimento, porque cada fase da nossa vida, superada pela graça, torna-se ressuscitada.

“Pai, abraça cada um dos teus filhos e diz forte ‘Eu te conheço, filho meu’”. E quanto mais ferido você estiver, mais colo você terá. Porque é assim que um coração de mãe faz: quanto mais ferido, mais colo e mais atenção. É preciso ter coragem para deixar Aquele que nos conhece, revelar o que somos. Nisso está o princípio do autoconhecimento cristão. O único que nos conhece é Aquele que nos criou.
Santa Catarina de Sena, em 1378, escreve um livro, “O Diálogo”, no qual insiste no autoconhecimento. Quando decidimos conhecer-nos, nos encontramos como verdadeiros monstrinhos, numa cela, completamente deformados pelo pecado. Mas, é também aí que vemos a grandeza de Deus, que nos ama exatamente como somos. Vocês conhecem a história dos dois prisioneiros? O prisioneiro que foi condenado à prisão perpétua, agita, incomoda e programa fugas.
 
Aquele que sabe que está prestes a sair, se comporta bem. Então, na prisão da nossa humanidade decaída pelo pecado, o Senhor nos convida a sentirmo-nos bem, porque logo sairemos; logo, logo estaremos livres e toda lágrima será enxugada, não haverá mais fome nem sede. Só felicidade. Nesta cela, não tenhamos medo porque Jesus Cristo está conosco.

Feche os olhos e deixe Jesus pegar tua mão e passear pela tua história, pela tua vida. Por que você se defende e se esconde? Permita que Ele ordene e reajuste o seu interior. Esta palavra é chave para nós: reajustar. Se você sente que tem ciúmes da casa, do carro, do marido... deixe Deus curar.

Outra coisa fundamental no autoconhecimento são as raízes que trazemos e que só Ele sabe quais são e onde estão. Quantas coisas não nos pertencem, mas são trazidas na bagagem da nossa natureza. Por isso, com toda a confiança, segure na mão de Jesus e deixe que Ele entre em tua vida. Você pode perguntar-lhe: “Senhor, por que tenho medo do escuro? Por que sinto falta de ar?”
 
Como vamos nos conhecer se fugirmos dos braços Daquele que nos perscruta, conhece e sabe tudo de nós? Não tenha medo, deixe que hoje o Senhor lave o teu pecado de uma maneira extraordinária. Se o nosso copo está cheio, não pode colocar outro líqüido dentro. Ele quer esvaziar-nos dos nossos medos, malícias e mentiras para encher-nos do Seu Espírito. Jesus, vem curar todas as pessoas!

Quando perguntei ao Senhor por que eu tinha dificuldade de me deixar amar e de me deixar abraçar e desejava um coração manso, Ele me dizia que coração manso é aquele que se deixa acariciar. Então, permitamos que o Senhor acaricie o nosso coração agora.

Jesus me disse mais: “Manso, é aquele que, quando leva pontapés, quando é ferido, não revida”. Senhor, peço-te agora que venhas dar-nos um coração manso e humilde, para que possamos amar os nossos familiares que, muitas vezes, têm sido os que mais nos machucam. Ensina-nos a lidar com os eles e com os demais que nos cercam.

Só busca a via do autoconhecimento por Jesus Cristo, aquele que decidiu amar. “Por isso, Senhor, ao coração de cada um coloca o desejo infinito de amar”. A Quinta-feira Santa é o dia do amor, por causa da instituição da Eucaristia e do Lava-pés. “Senhor, dá-nos o dom do amor. O dom de amarmos a nós mesmos nas nossas limitações; e nas riquezas das nossas raízes, na nossa maneira de ser, que saibamos amar. Amar também o outro, como ele é, sem dominação, reconhecendo sua liberdade”.

Senhor, olha os votos interiores de cada um, aqueles que disseram: ‘Nunca mais vou amar; nunca mais vou perdoar; nunca mais quero saber de crianças ou de filhos ou de homens’. Quebra todas essas tábuas de pedra. Dá-nos o dom do autoconhecimento na serenidade dos teus braços de Pai”. Quem se mete nos calabouços profundos de si mesmo sem as mãos do Pai, enlouquece.
 
Nós temos a graça de receber e de perceber em cada parte em que nos vemos e em que nos desnudamos, a mão do Pai. Precisamos das mãos do Pai: uma, para segurarmos e nos sentir seguros; outra, para nos deixar acariciar. Só saberemos acariciar e amar se recebermos Dele o amor e o carinho.

Na estrada do autoconhecimento, não temos o direito de parar, nem de desistir. Porque o autoconhecimento nos leva a reconhecer a grandeza de Deus e a nossa pequenez. À medida que vão caindo as máscaras das nossas mentiras, malícias e inseguranças sobrepostas à nossa verdadeira identidade, vamos nos tornando bonitos, muitos bonitos, à semelhança de Jesus.

Maria Francisca
Consagrada da Comunidade Oásis, de Caxias do Sul-RS. Esteve em

Precisamos aceitar as correções que vem do Senhor

O Senhor ainda nos dá tempo para conversão. É necessário escutar o pastor que quer nos dar a chance de ser feliz. E para nos lapidar nos corrige. Como pai que ama e quer o nosso bem, usa um chicote especial.

É bem verdade, que é um chicote espiritual que na maioria das vezes não aceitamos e como crianças a dar birra, insistimos na ignorância espiritual.

Pirraçamos através da imaturidade espiritual e nos negamos a ouvir o mestre.

As consequências são desastrosas.

Ouçamos a voz de Jesus e nos preparemos.





domingo, 15 de janeiro de 2012

Em busca da Liberdade Interior

shalom- Decidido a encontrar a liberdade interior, o jovem partiu em direção à montanha, levando tudo o que precisaria para a longa jornada: água, alimento, cobertores, equipamento de camping, filtro solar, produtos de higiene. Sua carga era grande, mas parecia-lhe valer a pena suportar seu peso diante do grande prêmio que receberia ao final de sua viagem.

Após cinco semanas de caminhada, avistou a montanha e começou a fazer planos sobre a conversa que teria com o primeiro homem de oração. Já o imaginava: longas barbas brancas, sentado em uma esteira, em profunda oração diante de um belo e raro ícone bizantino, no fundo de uma gruta úmida, iluminada por velas artesanais.

Após horas de subida sob o peso de seu equipamento que unia-se ao sol causticante para queimar-lhe as costas, chegou a uma casa avarandada, cercada de flores multicoloridas. Um homem de calça jeans surrada varria a varanda, assoviando.

– Boa tarde, senhor! O senhor sabe onde posso encontrar por aqui o homem de oração?

– O que você quer com ele?

– Vim de longe. Vou escalar a montanha da liberdade interior e, segundo me orientaram, devo procurá-lo nesta região. Ele orientará minha viagem.

– Ah! Você deve ser o Fares! Venha, entre, entre! – Disse, retirando o boné e recolocando-o, em uma tentativa vã de alinhar os cabelos suados. Depois continuou:

– Estava mesmo esperando por você! Sou o Zeca, o segundo homem de oração que você encontrará em sua jornada! Prazer!

– Segundo?!? – Perguntou o jovem estendendo-lhe a mão, visivelmente surpreso por encontrar um homem de oração com ar jovial, barba feita, fazendo algo tão banal quanto varrer uma varanda.

– Claro! O primeiro é você mesmo! ... Ou não é?

– Sim, claro! – Respondeu Fares, esforçando-se para acompanhar a gargalhada com que o homem de oração finalizara sua frase, batendo-lhe levemente nas costas.

– Vamos lá, sente-se, sente-se! Vou pegar um café para nós e volto já.

Enquanto digeria a surpresa misturada a uma certa decepção com o jeito de ser do homem de oração, o jovem esforçava-se de todo jeito para tirar seu equipamento das costas antes que o anfitrião voltasse. Foi em vão. Deus sabe por que razão, as alças que se lhe prendiam aos ombros, à cintura e às pernas recusavam-se a soltarem-se das presilhas.

– Então, ainda em pé? Sente-se!

– É que estou preso ao equipamento. Será que o senhor pode me ajudar?

– Bem que eu gostaria, mas isso cabe a você. O que tem aí? – Perguntou, sorvendo o café e apontando com a cabeça para o equipamento.

– Água, enlatados, pão, queijo, mortadela, repelente de insetos, filtro solar, lanterna, fogareiro, roupas, coberta, capa para chuva, óculos de sol, tenda, colchonete, faca de ponta, talheres... ahn, o que mais... deixa eu ver, copo...

– Coração – interrompeu o homem de oração.

– Como assim, “coração”?

– O que faria se, hoje à noite, enquanto dorme, todas estas coisas lhe fossem tiradas?

– Ficaria muito frustrado. Teria estragado toda a minha viagem.

O homem de oração sentou-se e, sorvendo o café, ficou olhando ao longe. Fares tentou várias vezes quebrar o silêncio incômodo. Em vão. Fez-lhe perguntas, contou-lhe sua vida, suas motivações para a viagem. Nada. Perguntou-lhe sobre sua família, elogiou a paisagem. Silêncio por resposta. Nada parecia retirar o homem de oração daquele estado. Seus olhos continuavam grudados no vale que se deitava, como um cão fiel, a seus pés.

O silêncio fazia os pés de Fares arderem em suas botinas. Seu relógio equipado com altímetro, bússola e horário de vários países só conseguia passar-lhe uma informação trivial: estava ali, de pé, sob o peso do equipamento, há duas horas e meia. Tentava sentar-se. Impossível. Talvez encostar-se à parede? Só piorava a situação. Sentar-se no chão? Queda certa! Era o jeito esperar. O pior é que ninguém dizia nada. Não agüentava mais! Pensou em ir embora, mas isso seria abandonar todos os seus planos e sonhos. Já escurecia quando Fares, exausto, pediu, quase chorando, ao homem de oração:

– Senhor, por favor, me ajude! Faça o que quiser, mas me ajude!

– E o que você quer que eu lhe faça? – Perguntou o homem, para espanto de Fares: era óbvio que ele queria ajuda! No entanto, a resposta que saiu de sua boca foi uma frase estranha:

– Quero que me liberte – Disse, envergonhado por estar soluçando como uma criança apavorada.
O homem de oração saiu sem pressa e voltou com uma grande tesoura, que entregou a Fares. Em seguida, sentou-se e voltou a olhar Deus sabe para o quê. Fares compreendeu. Tomou a tesoura e cortou as tiras que lhe prendiam as pernas, a cintura, os ombros. O equipamento caiu com um barulho surdo. O homem de oração disse, simplesmente:

– Primeiro passo: liberte-se de tudo o que o distrai, de tudo o que ocupa seu coração. Fique atento ao seu interior, onde você leva somente a Deus e a você mesmo.

Nesse momento, uma menina, com riso límpido, cabelo solto ao ar, passou, dançando, pelo jardim, vinda de nenhum lugar, indo para lugar algum.

Maria Emmir Nogueira

Fonte: Comshalom

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Vaticano perdoa os Beatles por se considerarem mais famosos que Jesus

21/11/08 - 18h46 - Atualizado em 21/11/08 - 18h46

No aniversário de 40 anos do lendário 'Álbum branco', Igreja reavalia declaração polêmica de John Lenon

Do EGO, no Rio
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Reprodução /Reprodução

Beatles: perdoados pelo Vaticano

A Igreja Católica anunciou nesta sexta-feira, 21, em seu jornal oficial, “L’Osservatore Romano”, o perdão a John Lennon por ter declarado nos anos 1960 que os Beatles eram mais famosos que Jesus Cisto.

A informação veio em uma reportagem para marcar os 40 anos do lançamento do “Álbum branco” e considera a declaração “a bravata de um jovem da classe trabalhadora inglesa impressionado com o sucesso, após crescer sob o mito de Elvis Presley”.

O artigo reavalia a importância desse disco histórico após recordar seu processo de criação. “O disco nasceu quando o Fab Four estava em crise como grupo”, diz a publicação, que critica música pop de hoje.

“Atualmente, os produtos discográficos são padronizados e estereotipados, muito distantes da criatividade dos Beatles”, afirma a reportagem.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Famoso Exorcista da diocese de Roma, Pe. Gabriele Amorth: A Oração de Libertação no Reavivamento


Segue um texto do mais conhecido exorcista da atualidade, dando todos os direcionamentos sobre esta atividade. Afirmo que estão surgindo casos como nunca, tanto de doenças quanto de distúrbios pessoais, familiares e comentários, que precisam ser analisados por este ângulo.

Os espíritos do mal não perdem uma só oportunidade de manobrar pessoas, animais, plantas e a própria natureza, desde que isso provoque traumas e confusões. Deus permite a eles esta atividade não como demonstração de força deles, mas como motivo de luta aos homens, para que os vençam. A arma única é a ORAÇÃO, com Deus.

Lembrem-se, porém: o exorcismo maior compete apenas aos sacerdotes, que forem nomeados pelos bispos. Como infelizmente muitas dioceses não tem estes padres especializados, hoje e sempre o Céu tem suscitado pessoas com este dom, este carisma, de expulsar demônios. Que ninguém se meta a enfrentar diretamente estes espíritos, embora sempre DEVEMOS e PODEMOS rezar as orações de Cura e libertação. Isso diariamente e até mais vezes ao dia.


PADRE GABRIELE AMORTH


Famoso Exorcista da diocese de Roma.

A ORAÇÃO DE LIBERTAÇÃO NO REAVIVAMENTO

A Bíblia diz-nos que a vida do homem sobre a terra é uma luta (Jó 7,1). Contra quem? Paulo é claro: contra os demônios (Ef 6,12). Quanto irá durar esta luta? Também o Vaticano II é claro a este respeito ao resumir os ensinamentos de Jesus: “A história humana na sua globalidade está marcada por uma luta tremenda contra as potências das trevas; luta que começou logo na origem do mundo e que irá durar, como diz o senhor, até ao último dia“ (Gandium et Spes, nº 37).

O cristão moderno, sobretudo, perdeu o sentido desta luta.
Deste modo, acabou por perder o sentido do pecado e atingiu uma imortalidade de vida total, que os cardeais definiram como sendo uma noite ética. Atingiu uma ignorância e uma perda de fé tais que é necessário uma nova evangelização. Já não sabe por onde começar.

Vem em nosso auxílio Paulo VI, no famoso discurso sobre o demônio, de 15 de novembro de 1972. À pergunta: “Que defesa contrapor à ação do demônio?” responde: “Tudo o que nos defende do pecado protege-nos do inimigo invisível. A graça é a defesa decisiva”. E o discurso prossegue sublinhando a importância dos meios comuns da graça.

Mas nós sabemos que não existe apenas a ação ordinária, a tentação, que pode ser vencida mediante a vigilância e a oração. Sabemos que também existe uma ação extraordinária dos espíritos maléficos, que assalta homens, famílias, sociedades inteiras, causando males de vários tipos e mesmo a possessão. Contra esta atividade não são suficientes os meios comuns da graça, que, no entanto, continuam a ser fundamentais. É por isso que o Senhor deu o poder de expulsar os demônios: primeiro aos Apóstolos, depois aos discípulos e, por fim, a todos aqueles que acreditassem nele.

E se recebi do meu bispo inesperadamente a faculdade de exorcizar, não pude fechar os olhos a todo um mundo novo que descobri e às carências pastorais que existiam e que também a mim não me deixavam vê-lo.

Uma destas carências levamos em consideração: o quase desaparecimento do exorcismo. Admiro os nossos bispos que começam a fazer algo, embora se encontrem também eles perante um problema que não foram preparados para enfrentar.

Pelos motivos a que já nos referimos, os bispos encontram-se na condição de nunca terem feito nenhum exorcismo, de nunca terem visto nenhum sendo feito e, sob a influência de algumas correntes muito em voga de acreditarem pouco nele. Há exceções, mas são sempre exceções.

E, no entanto, a nomeação dos exorcistas é exclusivamente responsabilidade dos bispos. Diria que têm o monopólio absoluto numa matéria que não conhecem. Apesar desta situação, e é por isso que os admiro, já foram nomeados, na Itália, nos últimos anos, muitos exorcistas.

Até mesmo em dioceses que nunca tinha ouvido falar de exorcistas e por parte dos bispos que, até há bem pouco tempo , se tinham declarado abertamente contra tais nomeações. Espero também que, a seguir às nomeações, se desenvolva progressivamente a possibilidade de uma adequada formação neste campo. Entretanto, os próprios exorcistas procuram ajudar-se entre si mediante encontros internacionais, nacionais e regionais.

Mas os exorcistas não chegam para cobrir as necessidades deste setor; e quando a Igreja latina instituiu o exorcismo não tencionava retirar do resto dos fiéis aqueles poderes que o Senhor deu aos crentes que atuam com força do seu nome. Eis por que identifico uma segunda lacuna que é necessário preencher: é também a totalidade da comunidade dos fiéis que deve sentir-se empenhada nesta luta.

O próprio Jesus iniciou a luta quando ensinou o Pai-Nosso, em que a última invocação é realmente uma oração de libertação: “Livrai-nos do Mal”. Seria mais exato traduzir: “Livrai-nos do Mal.” O Catecismo, corretamente, escreve a palavra Mal com maiúscula inicial e explica: “Neste pedido, o Mal não é uma abstração; indica , pelo contrário, uma pessoa: Satanás, o Maligno, o anjo que se opõe a Deus”. ( nº2.851).

As orações de libertação têm grandíssima importância. Antes de mais nada, são suficientes para libertarem dos malefícios menores, em que não e necessário recorrer ao exorcismo. Muitas vezes são preciosas para descobrir a existência de um malefício, ou seja, é um precioso auxílio em um primeiro diagnóstico.

Mesmo quando uma pessoa precisa ser exorcizada, as orações de libertação ajudam aos exorcismos, aumentando-lhes a eficácia e estabilizando os resultados. Não podemos deixar de mencionar que os católicos tinham abandonado esta forma de oração e recuperaram-na depois de a verem amplamente praticada com eficácia pelos pentecostais. É sinal de inteligência saber aprender com os outros quanto de bom nos podem ensinar ou mesmo só recordar.

Acrescento que a oração de libertação é uma oração privada (o exorcismo é uma oração pública que envolve a autoridade da Igreja); pode ser feita por todos, indivíduos ou grupos, e sobre todos; não requer nenhuma autorização; enquanto o exorcismo, pelo contrário, mas espero que as disposições mudem, só pode ser administrado pelos bispos ou pelos sacerdotes autorizados pelos bispos.

Mas a oração de libertação também deve ser feita mesmo que não haja esquemas ou fórmulas fixas, por isso, é suficiente observar as normas gerais das orações (é uma oração de intercessão; o Catecismo da Igreja Católica dedica uma parte ampla e verdadeiramente preciosa á oração); é necessário evitar a escassez, alguns dos quais foram postos em evidência pela Congregação para a Doutrina da Fé, na carta enviada aos bispos no dia 29 de outubro de 1985.

Não há dúvida de que a oração de libertação foi, sobretudo divulgada por um dos mais importantes movimentos eclesiais do pós-Concílio, A Renovação Carismática (fala-se de cerca de 85 milhões de aderentes entre os católicos) e muitos de nós exorcistas nos apoiamos em grupos de oração, vista a sua preciosidade e o auxílio que nos facultavam. E não hesito em dizer que é o único grande movimento eclesial sensível a estes problemas e disposto a acolher e a ajudar as pessoas afetadas por este tipo de males.

Por isso, ao escrever este tema, confiei na competência de um dos maiores especialistas e mais conhecido exorcista da Sicília, o padre Matteo La Grua. Há já muito tempo que é membro da Comissão Nacional de Serviço. São preciosas as suas muitas instruções sobre como conduzir as orações de libertação, de cura e, de um modo geral, de intercessão por quem sofre.

A ele devo um especial agradecimento também pela publicação de dois livros riquíssimos de conteúdo e em que a sua experiência é mais do que evidente: La preghiera di liberazione [A oração de libertação] e La preghiera di guarigione [A oração de cura] (Ed. Herbita, Palermo). Duas obras que muito me ajudaram na elaboração dos meus livros anteriores.

Logicamente que o padre La Grua não tem a pretensão de tratar este tema na sua totalidade e variedade. Limita-se a expor como se desenrola a oração de libertação nos grupos de oração. O quanto será exposto é conteúdo de uma conferência que ele proferiu no Congresso Nacional de Exorcistas, que se realizou em Toma, em setembro de 1993. A palavra ao padre La Grua:

Como começamos

Considero que seja mérito dos movimentos carismáticos que apareceram depois do Concilio – e entre eles, do Renovamento no Espírito – o fato de terem chamado atenção para a presença ativa, no mundo de hoje, do diabo, de quem bem poucas pessoas levam a sério as suas manifestações; há uma teologia racionalista e reducionista que relega o demônio e o mundo dos espíritos para a condição de simples etiqueta, que cobre tudo aquilo que ameaça o homem na sua subjetividade. Isto era o que já escrevia o Cardeal Suenens já em 1982, na introdução do livro Rinnovamento e potenza delle tenebre (Renovamento e poder das trevas) (Ed. Paoline).

Depois a vários anos de distância, a situação não melhorou em nada, aliás, piorou. O aumento progressivo do ocultismo e do esoterismo, o proliferar das seitas satânicas, o multiplicar-se de magos e bruxos reforçam pelo mundo o grande inimigo. Esta é uma história que já dura muitas décadas. A tomada de consciência perigosa desde o início, à prática da oração de libertação, que os pentecostais já praticavam, e ainda praticam, em larga medida.

Por outro lado, era dado por adquirido que, com o despertar dos outros carismas (a profecia, as línguas, as curas), também despertaria o carisma da libertação: “Os sinais que acompanharão aqueles que me acreditaram são novas línguas (...); quando colocarem as mãos sobre os doentes, estes ficarão curados” (Mc 16, 17-18).

Mas foi o próprio Espírito, no exercício do carisma das curas e na prática da oração de efusão, a conduzir-nos à oração de libertação. Isto logo desde o início. Ao rezar sobre os doentes pedindo pela sua cura, espiritual e física, apercebemo-nos de que em muitos casos havia um obstáculo que impedia cura; era como se a doença estivesse prisioneira. Pensou-se, então, que seria bom começar com uma oração de libertação, que surtiu efeito: os doentes, depois daquela oração, ficavam mais abertos, mais dispostos a acolherem a graça da cura.

Lembro-me bem desta primeira experiência; poderia citar muitíssimos episódios. O primeiro, a cura instantânea de uma mulher que tinha um câncer num pulmão, um tumor do tamanho de um limão, que lhe tinha sido diagnosticado quer em Palermo quer em Paris. A mulher submeteu-se à oração do grupo. Apercebemo-nos de que havia qualquer coisa que impedia a eficácia da oração. Fiz então uma brevíssima oração de libertação e depois, assim que a mulher ficou libertada do impedimento, dei ao tumor a ordem de desaparecer. E desapareceu neste mesmo instante.

O mesmo se passou no episódio de libertação de um sacerdote que veio a um retiro em Perugia: tinha o espírito de sodomia. Era um homem enorme que sofria de cancro no reto. Foram necessárias duas horas e meia de exorcismo: a luta foi tremenda, luta corpo a corpo com o demônio, que não queria ir - embora. Aquele homem, assim que acabou o exorcismo, tinha-se tornado numa larva; tinha sido libertado de não sei quantos espíritos, mas o fato é que fisicamente estava muito sem forças.

Num primeiro momento, não conseguia agüentar-se de pé. Conformei-o dizendo-lhe que o diabo já tinha ido embora e que faríamos depois a oração da cura, uma vez que já estava na hora da Missa. Mas durante a Missa foi-me dirigida uma mensagem que dizia: pronuncia imediatamente a ordem de expulsão. Então, pus-me a rezar e depois dei a ordem de expulsão: o homem ficou logo curado do seu cancro. Porquê? Porque o impedimento era provocado pela presença do Maligno.

Também adquiri esta experiência: os tumores, que atualmente tanto afligem a humanidade, estão em grande parte ligados ao Maligno. É claro que, influencia também a poluição atmosférica; mas o demônio vagueia pelo ar, é o príncipe das regiões celestes, manipula aquilo que encontra e inocula germens patogênicos. E mais, é ele quem dá fim à vida familiar, à vida social; cria rancores, ódios, remorsos, depois de ter induzido ao pecado. Como afirmam também alguns médicos americanos, tudo isto favorece o aparecimento de tumores.

Por isso, quando temos que lidar com pessoas com tumores, a primeira coisa que faço não é rezar pela sua cura, mas pela sua libertação. Em muitos casos, existe um nexo entre os dois males: entre a presença e a atividade do Maligno e a da doença.
Assim, o nosso ponto de partida foi-nos sugerido por este fato: durante o exercício da oração de cura notávamos que algumas doenças resistiam, para depois cederem após a oração de libertação.

Houve, depois, um segundo motivo de iniciar com as orações de libertação. Foi a prática da oração para o batismo no Espírito, que nós chamamos efusão do Espírito Santo, pra o distinguir do Sacramento do Batismo, embora esta prática esteja intimamente ligada ao Batismo.

Parece que este rito já se praticava na Igreja desde o século VIII, mas depois perdeu-se. Um recente estudo de teólogos demonstrou que até ao século VIII se praticava a oração de efusão, considerada complementar aos três sacramentos da iniciação cristã (Batismo, Crisma, Eucaristia). Atualmente, procura-se recuperar esta prática de modo a reforçar o cristão na luta e a inseri-lo no corpo eclesial, para edificação do Corpo Místico de Cristo.

Durante a efusão, nós reparávamos que muitas pessoas não ficavam libertadas; mediante introspecção interior identificávamos que as potências do espírito estavam como que entupidas, havia um bloqueio, uma incapacidade de recepção das moções do Espírito, das iluminações do Espírito. E sem estas iluminações do Espírito o cristão não pode viver plenamente a fé, a esperança e a capacidade; ou seja, a vida de filho de Deus.

Por outro lado, notamos que muitas pessoas tinham freqüentado magos e bruxas; tinham também participado em sessões de espiritismo ou de artes de adivinhação. Em suma, tinham contraído ligações. Por isso, notávamos que havia impedimentos; havia ainda uma atividade do Maligno.

Porque a atividade do Maligno não é tanto aquela que notamos nos possuídos, quanto a mais sutil que o inimigo desenvolve dentro de nós, nas potências do espírito que presidem à nossa vida espiritual.
Então, antes da efusão, começamos a fazer uma oração de libertação. E foram estas as situações que marcaram o nosso começo: a necessidade de iniciar com a oração de libertação antes da oração de cura e da prática da efusão.

Um desenvolvimento progressivo

Como o avançar do tempo, cada vez mais pessoas vinham até nós, pessoas que não estavam muito próximas de Deus e que precisavam de orações de libertação; nos maiores destes grupos, como o que eu oriento, fixamos ministérios estabilizados de libertação. Atualmente, a oração de libertação encontra-se muito difundida; muitos grupos da Renovação constituíram ministérios de libertação das amarras do Maligno naqueles que costumamos considerar casos menores, quer no acompanhamento do sacerdote exorcista no exercício do seu ministério. Temos também serviços coletivos de libertação.

Que estilo de oração praticamos na libertação?

Antes de mais nada, um estilo de oração comunitária; e isto por dois motivos: um teológico e um pastoral. Não preferimos a oração individual, como se costuma fazer no exorcismo. No exorcismo é o exorcista quem atua; na oração de libertação atua a comunidade. Damos grande valor à realidade de Igreja, vivente em cada comunidade de fiéis que se reúnem em redor de Cristo e invocam o Espírito. Na comunidade dos crentes é Cristo quem atua e continua a libertar os irmãos da presença do inimigo.

Por outro lado, consideramos com segurança que a libertação é função do Corpo Místico de Cristo, que deve eliminar do seu seio as infiltrações do Maligno, lá onde elas se manifestarem; porque qualquer manifestação do Maligno pesa sobre o corpo todo e danifica-o. Eis então a idéia de que a Igreja, a comunidade, e em toda a Igreja.

Há também um motivo pastoral, ou, melhor, teológico: a oração comunitária permite a interação dos vários carismas, que, deste modo, melhor iluminam e tornam mais eficaz a oração. Por outro lado, preserva-nos do perigo de sermos confundidos com magos ou curandeiros, que atuam sempre isoladamente. A interação dos carismas é um motivo pastoral: numa comunidade existem diferentes carismas; como a finalidade é livra-se de um mal, um grupo que tem bons carismas obtém mais facilmente a libertação.

Qual é a composição ideal de um grupo?

Tratando-se de um grupo carismático, nós procuramos antes de mais quem tem o carisma da cura. Nos primeiros séculos da Igreja, antes que se instituísse o sacramental do exorcizado, eram os carismáticos que libertavam; ou seja, eram todos os cristãos que exerciam os seus carismas. Também hoje existem pessoas que possuem este carisma; são pessoas que vivem no anonimato, mas que têm poder sobre o Maligno.

Nós apercebemo-nos deste fato porque na sua presença, mesmo quando rezam em silêncio e retirados do grupo, o paciente começa a abanar-se todo. A sua presença é suficiente. São pessoas que, por terem este carisma da cura, asseguram a autoridade carismática do grupo. É uma experiência claríssima que já fizemos.

Utilizamos também o profeta em abundância. Quem é o profeta, o profeta bíblico? É um dom de Deus também presente nos nossos grupos. O profeta é quem recebe uma iluminação do Espírito Santo e nos dá indicações bíblicas. Com o avançar da oração, é que ele quem dá indicações que acertam em cheio o alvo; por isso, a oração é sempre guiada. Descobrimos, por exemplo, a origem de uma doença porque no decurso da oração o Senhor intervém sugerindo texto bíblicos adequados ao caso em questão.

Por exemplo, o profeta sugere: “Vamos ler Isaías 4,4 seguido de Ezequiel 8,2”. É criado um clima que nos orienta sobre como devemos agir. A presença do profeta é muito importante; por vezes, durante a oração, o Senhor conforta-nos, convida-nos a insistir, indica-nos a origem do mal.

Quando é possível, também está presente o Sacerdote que assegura a autoridade eclesiástica com o seu poder ministerial. E também há quem interceda; há pessoas que têm o carisma da intercessão. Quando um grupo é composto desta maneira, com a presença de vários carismas, é um grupo ideal para fazer o discernimento e para orientar a oração. Esta torna-se muito eficaz e nós apercebemos-nos da alegria, da paz e da serenidade que acompanham a libertação.
É claro que, no discernimento, prestamos atenção ao grupo infetado, à identidade dos espíritos do mal que atuam, no nível em que atuam e os objetivos que os movem.

Qual é a força da oração de libertação?


É uma pergunta que já várias vezes me fiz. A oração de libertação muitas vezes chega a substituir o exorcismo. Aliás, em certos caso não convém fazer o exorcismo, que deve reservar-se para as situações mais graves. Nos casos menores, ao contrário, é preferível a oração de libertação.
Exercendo este ministério, reparei na força extraordinária da oração de louvor: liberta uma força poderosíssima. E também reparei na força da Palavra de Deus, sobretudo das palavras de Jesus. Nós baseamo-nos muito nestes dois elementos: a oração e a Palavra.
No exorcismo oficial temos três elementos: a oração, a Palavra, a esconjuração. E, muitas vezes, a conjuração, ou seja, a ordem dirigida ao Maligno é resolutiva. Nos casos mais graves não podemos deixar de nos agarrar a ela, porque é a autoridade da Igreja que intervém.

Na oração da libertação, pelo contrário, a força decisiva é o louvor. É suficiente pensar em alguns casos bíblicos. Durante a batalha contra Amalec, Moisés reza sobre o monte: são os seus braços erguidos em oração que obtêm a vitória.
Jericó era uma cidade bem fortificada; e, no entanto, foi suficiente a oração de louvor a Deus, cantada em redor da cidade, para lhe derrubar as muralhas.

O Segundo Livro das Crônicas informa-nos sobre os israelitas que partiram para o deserto do Tecoa; Josafat colocou os cantores do Senhor, vestidos de paramentos sagrados, à frente dos homens, para que louvassem a Deus dizendo: “Louvai o Senhor porque a sua graça dura para sempre”. Assim que começaram os cânticos de júbilo de louvor, o Senhor preparou uma armadilha contra os inimigos de Israel, que foram derrotados.

A oração é forte, sobretudo no Novo Testamento. Cristo obteve a vitória decisiva sobre o Maligno e a oração de louvor, com esta vitória, reordena o universo perturbado pelo pecado. O Maligno tinha tentado apagar o louvor no céu, arrastando os anjos rebeldes para o inferno. Tentou, depois, interromper o louvor de Adão, o homem que devia fazer-se voz do universo e louvar o Criador.

Agora, cada vez que o inimigo ouve a oração de louvor, escuta a vitória de Cristo vitorioso sobre a morte, sobre o pecado e sobre os demônios. E Satanás sente uma inveja fortíssima, porque agora é o homem quem louva a Deus; no lugar que ele ocupava, agora, está o homem que se une aos Anjos e louva o Senhor. O Maligno sente-se frustrado na sua pessoa e nas suas obras; por isso reage com tanta veemência à oração de louvor.

A oração de intercessão também é muito potente. Constatamos isso no livro dos Atos, quando os Apóstolos estão na prisão e a Igreja reza por eles e se dá a libertação. Do mesmo modo, pouco depois, quando Pedro está preso, a Igreja reza; e Deus envia o anjo para libertar o Seu Apóstolo.
Também nas nossas orações, constatamos que o Maligno fica furioso, sobretudo, durante a oração de libertação e, freqüentemente, é durante esta oração que foge.

Sublinho, igualmente, a força de Palavra. Nós não esconjuramos, a não ser que esteja sempre um Sacerdote autorizado; mas atribuímos muita força à Palavra de Deus; experimentamos esta força e usamo-la largamente. Têm especial eficácia as palavras de Jesus e as outras citações bíblicas que nos são sugeridas. A palavra de Jesus derrota o inimigo. Quando fazemos a oração de libertação, pronunciamos lentamente as palavras de Jesus, escolhendo um dos vários episódios em que ele expulsa o demônio.

Trata-se de apresentar de novo a Jesus, de o fazer reviver naquela cena, de introduzir Jesus, o libertador. As palavras de Jesus pronunciadas nesse momento, com a força de Espírito, derrotam o inimigo, que grita e vai-se embora; e vai-se embora também quando é desmascarado por uma indicação bíblica.

Tal como o cântico de louvor, também a Palavra de Deus consola os aflitos, cura os corações dilacerados, cuida das feridas, infunde esperança, faz com que o paciente experimente pessoalmente a presença do seu libertador.

Já falamos da oração de louvor, da palavra de Jesus. Gostaria de acrescentar mais alguma coisa sobre o modo como estruturamos a oração. Existe uma libertação de (ou seja, uma libertação da presença do Maligno; por isso olha-se para ele) e uma libertação para (vantagem de; e, por isso, olha-se para a pessoa).

Mais importante do que libertar de, é libertar para. Privilegiamos a libertação para enquanto trabalhamos pela libertação de. Ou seja, interessa-nos mais o irmão perturbado que o inimigo; a atenção vai toda para o irmão. E é por isso que solicitamos a sua colaboração de todas as maneiras. Em vez de expulsar o inimigo, procuramos resgatar-lhe o paciente.

A libertação pode ocorrer de duas maneiras. Imaginemos uma sala sem que esteja presente o Maligno e o paciente. Um método é o de apanhar o Maligno e expulsá-lo dali; se se consegue, o método é bom. Mas também já vimos que é mais fácil um outro método: aquele de agarrar o paciente e levá-lo para outro lugar, fora da sala, onde esteja em segurança. É o método que preferimos, interessa-nos mais o paciente do que o inimigo.

Interessarmo-nos pelo paciente significa estimulá-lo a rezar, solicitar a graça de Deus sobre ele e fortalecê-lo com os sacramentos, ajudá-lo a tomar consciência da sua situação para que saia dela. Vimos que, desta maneira, a libertação é mais fácil, pois transforma-se o homem infestado pelo Maligno num homem capaz de viver com o filho de Deus.

Com efeito, qual é a finalidade do Maligno?

É destruir o homem-cristão, o homem na sua identidade de filho de Deus. Nós, então, temos de o tornar capaz de viver a sua vida filial no Espírito Santo. Por isso, logo de imediato, invocamos sobre ele o Espírito Santo, para que preencha os espaços vazios, para que o corrobore de maneira a que, com a força do Espírito, possa arrepender-se e viver plenamente a proposta de vida cristã na fé, na esperança, na caridade.

Também tem muito peso a fé o amor daqueles que intervêm. Nós pedimos sempre ao Senhor uma grande fé; o nosso ministério exige muita fé; o Evangelho é claro. A nossa força é a fé de quem reza e a caridade para com Deus e para com o próximo.

A fé e a caridade ajudam-me reciprocamente muito bem. São Gregório Magno, falando acerca da pregação, afirmava que ninguém pode exercer este ministério se não tiver caridade para com o próximo. Nós dizemos o mesmo a respeito do ministério da libertação. O espírito maléfico não resiste ao amor; ele, que é fogo, tem medo do fogo do amor. Por isso, nós procuramos amar o doente, amar quem está infestado, para além de nos amarmos uns aos outros no grupo. Se não existe amor não se avança, porque o amor derrota o inimigo.

O esquema da oração.


O livro de Salvucci, indicazioni pastorali di um esorcista (Indicações pastorais de um exorcista) (Ed. Ancora), apresenta um plano muito bom. Nós o seguimos há já muito tempo.

1- A primeira coisa, a mais importante para começar, é a invocação do Espírito Santo: Veni, Creator Spiritus.

2- depois, fazemos o discernimento dos espíritos; também é um aspecto muito importante, que nunca podemos omitir. Pois, a tarefa mais difícil que o exorcista tem de desempenhar, mais ainda do que o próprio exorcismo é o diagnóstico.

É necessário identificar a maneira de atuar dos espíritos malignos também nos casos menos graves: tentação, vexação, sedução, infestação, circuncessão (de que se fala pouco). Estes modos de atuar apresentam constantes e diferenças, conforme a pessoa, o seu estado, a sua cultura e ambiente.

Uma das constantes é que, freqüentemente, os espíritos agrupam-se e unem-se uns aos outros. Se existe um espírito de ódio, facilmente entra também o espírito da ira e da vingança; o espírito de gula chama o espírito da luxúria e da indolência; o espírito da inveja é sempre seguido por um espírito de soberba. Estes espíritos podem camuflar-se sob a forma de presenças pessoais, que apenas são projeções da pessoa ou personalidades fictícias, sob a ação do espírito.

Outra constante é a sucessão dos espíritos.
Ao espírito que induz ao pecado segue-se um espírito de desespero, de depressão, de suicídio.
Ao espírito da gnose, que é muito freqüente e que diz respeito ao conhecimento das coisas ocultas, segue-se o espírito de confusão mental e de aberração, que altera o campo das idéias e das convicções.

Em conclusão, é necessário discernimento para identificar os espíritos que estão em atividade. Isto deve ser feito em relação às simples tentações, seduções, vexações; são os casos mais comuns e mais perigosos porque são obstáculos à vida cristã.

3- Após este discernimento e depois de verificar quais os objetivos ou direções de atividade que perseguem estes espíritos, prossegue-se com o esquema; cuidamos do doente através da oração. Segue-se uma brevíssima evangelização, em que apresentamos Jesus, o libertador; a finalidade é pôr em contato o paciente com aquele que liberta.

Chegamos a este ponto, todos intervêm com uma oração livre, sem esquema. E é bom que não se siga nenhum esquema porque cada caso é diferente dos outros. Intervém o profeta e lê-se a Palavra de Deus sugerida. Quando nos apercebemos de que algo começa a mudar na pessoa sobre quem reza, procuramos dar maior intensidade à oração, mediante a oração de intercessão.

Uma coisa importante para nós, antes de avançar para a oração de libertação, é assegurar-nos da presença de Cristo no meio de nós, porque quem liberta é Jesus. Não é difícil porque foi ele próprio quem disse: “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou no meio deles” (Mt 18,20).

É nossa missão sentirmo-nos, ou seja, querermos estar reunidos em seu Nome. Experimentamos uma sensação de amor, alegria, de paz; parece quase que sentimos a presença operante do Senhor e, então, rezamos realmente com fé. Confiamos fortemente na Palavra de Deus, como nos é repetidamente indicado pelo profeta. Deste modo, prosseguimos com a oração até ao fim, sem nenhuma outra preocupação.

4- Assim que a libertação ocorre fica ainda algo por fazer. Seria um erro abandonar o doente após a libertação; libertar não é fácil, manter a pessoa livre é ainda mais difícil.

Todos os exorcistas já fizeram experiência de tantos casos de recaídas; e a causa, muitas vezes, é ter abandonado a pessoa após a libertação do maligno.
Por isso, convém que a oração de libertação seja seguida por um período de convalescença, quase uma terapia de recuperação. É absolutamente necessário.

O Evangelho fala-nos do espírito maligno que, assim que sai de uma pessoa, durante algum tempo anda errante por lugares desertos, depois procura outros sete espíritos piores do que ele e regressa à mesma pessoa, fazendo com que a situação desta fique pior que antes (cf. Mt 12,43-45).

Dá-nos o que pensar: é melhor não fazer a libertação se depois não se consegue assegurar um período adequado de convalescença. É necessário não só curar um paciente, mas também assegurar-lhe uma libertação completa e consolidada.

Compreendemos então por que razão para nós é muito importante esse segundo período. Foi com esta finalidade que instituímos serviços coletivos de cura e libertação; assegurando-los três vezes por semana; duram duas a três horas; com a participação de muita gente. Procuramos que todas as pessoas libertadas ou curadas intervenham nestes serviços.

A nossa maneira de proceder é a seguinte: Antes de mais nada um encontro sacramental com Jesus; preparamos as pessoas para a confissão antes da Missa, porque tem grande importância a purificação sacramental. Quando começa a Missa, iniciamos com a aspersão da água, ou seja, de novo com um rito de purificação que se apela ao Batismo. Na homilia, sublinhamos de novo o encontro com Jesus, presente na sua Palavra.

A oração do “Livrai-me” é solene: é o momento litúrgico da libertação. Neste momento tão especial pedimos de novo ao Pai, por Jesus presente na Eucaristia, a libertação moral e psicológica do espírito do mal, se ainda lá estiver.

Segue-se a comunhão; e, depois, os doentes, em procissão, dirigem-se para um amplo salão em que, de novo, apresentamos Jesus, o libertador. Ritos de purificação, invocações ao Espírito Santo, cânticos: deste modo, a ser acompanhado pela comunidade, e não deixado sozinho, após a libertação ou cura.

Assim, temos uma comunidade terapêutica, um comunidade de cura, onde todos aqueles que foram curados ou libertados participam e encontram, na comunidade que reza, o ambiente adequado para consolidar a libertação ou cura obtida.
 
Publicado: http://www.arcanjomiguel.net  Extraido:[ Fonte ]