sábado, 27 de agosto de 2011

A mulher tem a missão de santificar o mundo



Entrevista com Maria Emmir Oquendo Nogueira
Co-fundadora e formadora geral da Comunidade Shalom
Por Gigliola Sena e Maria Auristela


Shalom Maná: Você tem ministrado o curso “Mulheres, minhas irmãs”, que tem sido bastante procurado. Como nasceu a idéia desse curso e do que ele trata?
Emmir: O curso nasceu de muitas mulheres, minhas irmãs, que me pediam orientação e me perguntavam o que fazer nessa ou naquela situação das suas vidas como mulheres. Comecei então um programa na rádio Assunção falando sobre as mulheres da Bíblia. Infelizmente, estou sem tempo de continuar esse programa; mas é meu sonho – e acho que isso foi uma inspiração de Nossa Senhora – aprofundar esse tema na rádio, em artigos, talvez em livro, e fazer encontros no Brasil inteiro sobre isso, para que as mulheres tenham consciência do papel delas na Igreja, na família, na sociedade e consigo mesmas, as mulheres que Deus criou.

Tudo isso começou depois da minha consagração a Nossa Senhora. E eu sonho, e me coloco como instrumento de Deus e de Maria, para que as mulheres possam se comportar, se vestir, rezar, ser esposas, mães, celibatárias, aquela pessoa na sociedade, na família e na Igreja que Nossa Senhora seria e que Deus quer que ela seja. Então, assim surgiu o curso, e ele é parte de algo muito maior, eu creio, que Deus deseja fazer. E se não fizer através de mim, vai fazer através de outra pessoa, segundo a vontade dele.

Como você vê a importância e o papel da mulher neste terceiro milênio?
O mundo foi consagrado a Nossa Senhora já na década passada e João Paulo II renovou essa consagração às portas do terceiro milênio. O papel da mulher no terceiro milênio, especialmente no Brasil, é um papel santificador. Por ser esposa do Espírito, que é o santificador, a mulher tem de estar a serviço da santificação do mundo; da santificação das outras mulheres, dos homens, das crianças, dos pobres, dos ricos, de todos.

A mulher, que entende o papel de Nossa Senhora de esposa do Espírito, une-se a ela nesse desejo de colaborar para a santificação do mundo, seja através do sacrifício silencioso pessoal, ou em qualquer atividade, seja através do socorro aos pobres, do seu trabalho, na família, santificando o mundo pelo serviço.

Vejo que esse é o papel da mulher e, como eu disse, especialmente no Brasil, onde o sensualismo tem deformado tanto o rosto de Nossa Senhora no rosto de cada mulher.

Você acha que, nesse terceiro milênio, a mulher vai invadir mais os meios seculares e estar mais à frente em todas as áreas: social, política...?
Não sei. Não sei nem se é importante estar à frente de alguma coisa. Sei que o importante é ser santo. Esteja onde estiver, seja como for. O importante é fazer a vontade de Deus, que sejamos santas e cumpramos o projeto de Deus, e o seu projeto é a santificação do mundo.

Na sua opinião, quais os maiores desafios que as mulheres de hoje enfrentam?
Ser santa. Em qualquer época, em qualquer lugar, o maior desafio, tanto para a mulher quanto para o homem é a santidade. E vejo que é um desafio sobretudo para a mulher, tão fortemente assediada pelo consumismo, pelo sensualismo, por um romantismo mentiroso que não leva ao amor.

O desafio de santidade é muito maior quando o mundo inteiro faz exigências e leva a mulher a se centralizar em si mesma.

Então, é preciso ter muito o coração em Deus, os olhos em Jesus, para cumprir o maior desafio: ser santo. E ser santo quando você tem uma família estruturada, vive num ambiente saudável e harmonioso, está numa situação que favorece a santidade, é mais fácil. Mas eu diria que, no Brasil hoje, estamos numa situação que desfavorece a santidade. As pessoas, especialmente as mulheres, são levadas a centralizar-se em si mesmas, por um lado, e por outro lado a dispersar-se na superficialidade, nas futilidades, nas coisas passageiras. Isso é um grande risco e dificulta a caminhada para a santidade.

Nesse papel de santificadora, você poderia citar algumas mulheres que poderiam nos iluminar?
Madre Teresa de Calcutá, claro, ninguém esperava que eu dissesse outra coisa mesmo; Irmã Dulce e Ivete, uma senhora de Uganda, que conheci em Roma. Ela sustentou a família durante um massacre em Ruanda e hoje anda pelo mundo inteiro pregando o evangelho do perdão. Essas três mulheres marcaram minha vida, me impressionam imensamente e, quando eu crescer, gostaria de ser como elas. [risos].

Nas mulheres com quem você convive, quais as virtudes que você mais admira?
A santidade, a humildade, o silêncio.
Já que enveredamos por sua vida pessoal, existe uma curiosidade da qual não podemos fugir: como você consegue conciliar seu apostolado de co-fundadora, formadora geral da Obra Shalom, escritora... e seus empenhos familiares de esposa e mãe?

Não preciso conciliar, porque essas coisas são uma só. Todo mundo me faz essa pergunta e eu sempre gosto de explicar isso. Não existe oposição: meu apostolado de um lado, minha missão de outro, minha família de outro, eu de outro. Não. Tudo isso é uma coisa só, é o que eu sou.

Uma das coisas que Nossa Senhora me ajuda muito é na administração do tempo. Meu tempo não pertence a mim, mas a ela, a Deus. E quando tenho dificuldade, porque num determinado dia tenho dez coisas para fazer e só há tempo para cinco, então, peço a Nossa Senhora que ela administre meu tempo para a glória de Deus e cuide da minha agenda. É impressionante como tudo se resolve. Dessas cinco atividades para as quais não há tempo, ou a pessoa desiste, ou percebo que não é necessária, ou pode ficar para outro dia.

E não existe conflito entre família e apostolado. Uma das grandes descobertas na minha vida foi a de que tudo é uma coisa só. Isso me trouxe muita paz interior e unificação, porque tudo é missão, é Jesus vivendo em mim.

Nosso problema de tempo, às vezes, é que começamos a ser divididos interiormente, como se as coisas se opusessem, e elas não se opõem quando tudo é de Deus. Não existe uma divisão quando o dono é um só.

O que você gosta de fazer nas suas horas de lazer?

Gostei dessa palavra: “horas” de lazer, é muito interessante [risos].
O que eu mais gosto de fazer nos meus momentos de descanso é ler. Esse é o meu lazer predileto.
Depois disso, gosto de estar com minha família, de almoçar com meus pais, com meus irmãos, com meus filhos e marido, com a Comunidade, naquelas refeições demoradas, nas quais conversamos muito. É uma coisa que, infelizmente, o fast food está tirando de nós. Conviver é um grande lazer.

Emmir, gostaria agora de voltar ao tema de Nossa Senhora. No começo da entrevista você falava da consagração a Maria segundo São Luís Grignion de Montfort, da qual você é uma grande incentivadora. O que a leva a isso?
A consagração a Nossa Senhora, segundo o método de São Luís Grignion de Montfort, mudou minha vida. E é isso que me leva a incentivar todas as pessoas que eu posso a fazer essa consagração.
A segunda razão, não menos importante, foi que, poucos dias antes de morrer, o Ronaldo me disse: “Encontrei o caminho certo, reto, curto para chegar a Deus”. Pensei que estivesse falando de Santa Teresinha, mas ele foi ao quarto dele e buscou o livro da consagração total a Nossa Senhora segundo São Luís Grignion de Montfort. Era um livro que eu já conhecia, mas naquele momento vi Deus, através do Ronaldo, indicando-me um caminho que poderia me levar realmente à salvação.

Não sou uma pessoa naturalmente simples; devido a características da personalidade, complico um pouco as coisas, e essa consagração salvou-me de mim mesma, das minhas manias, de centralizar tudo em mim, de pensar que eu poderia ser ou fazer alguma coisa... e coloquei tudo nas mãos de Nossa Senhora. Minha vida mudou completamente. E vejo os frutos na minha vida pessoal, na minha vida familiar. Por isso eu insisto e, se pudesse, escreveria uma revista inteira sobre isso.

Para uma pessoa que ainda não descobriu Nossa Senhora, o que você recomendaria?
Às vezes as pessoas são influenciadas por algumas idéias erradas sobre Nossa Senhora, e eu tenho certeza de que se a conhecessem melhor, a amariam bem mais.

Então, eu recomendaria que você fale com ela. Se você precisa descobri-la, fale com ela como falaria com sua mãe. E se você não conseguir, reze a Ave-maria bem devagar, pedindo a Nossa Senhora a graça de poder rezar com o coração, de poder estar junto dela e descobri-la como mãe.

Descobrir Nossa Senhora é uma graça que devemos pedir sempre a Jesus: “Ajude-me a descobrir sua mãe, dê-me os sentimentos que você tem por ela”. Isso vai ajudar você, porque é uma graça imensa, e Deus, certamente, deseja dá-la a todas as pessoas.

Estamos completando 20 anos de Obra Shalom. O que você tem a dizer sobre Nossa Senhora nessa história?
Você quer começar outra entrevista, não é? [risos]. Eu até sugiro que na Shalom Maná haja um artigo sobre isso. Lembro que há alguns anos escrevi um artigo sobre Nossa Senhora e a vocação shalom, no qual eu falava da Rainha da Paz, Esposa do Espírito e Porta do Céu.

Eu, realmente, nem tenho como falar. Porque Nossa Senhora sempre esteve presente; presente do jeito dela. Mas, espero que nós, da Obra Shalom, nunca percamos o amor por Nossa Senhora, e também que possamos crescer e aprofundar o conhecimento sobre ela, a espiritualidade mariana.

Nesses 20 anos Nossa Senhora foi para nós apoio, consolo, direcionamento, caminho. Mas às vezes me dá a impressão de que Jesus deseja que a conheçamos melhor e amemos mais de maneira comunitária.

Gostaria de ressaltar a grande graça de Deus, quando, por iniciativa dele mesmo, conhecemos Nossa Senhora como a Porta do Céu e tem sido para nós um grande presente e consolo de Deus conhecermos os ícones de Nossa Senhora; os vários ícones que foram fazendo parte da nossa espiritualidade, como a Mãe da Ternura, a Porta do Céu e outros ícones que, graças a Deus, nossos irmãos começam já a pintar, expressando Nossa Senhora como ela se revela a nós, no Shalom.

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