quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Almas Penadas na visão de um teólogo católico.

Cheguei à conclusão que temos de aprofundar na nossa fé e ouvir os mais experientes. Obviamente devemos analisar tudo e ficar com o que é bom. Estou  lendo um livro  de Arnaud Dumouch que ensina teologia católica na Bélgica, formado na escola de S. Tomás de Aquino e de Santa Teresa de Ávila e há assuntos interessantíssimos e tenho transcrito algumas partes por ser esclarecer. Antes, porém, quero esclarecer que nunca devemos evocar um morto, pois o Senhor abomina tais práticas, mas não devemos ignorá-los, pois devemos rezar por eles sim.

Padre Robert DGrandis, Padre Rufus, Padre Alberto,Maria Gabriela, têm rezado pela cura de gerações. 
Nós do ministerio de libertação, tem sido uma realidade nas nossas orações.

(...) Segundo alguns teólogos, uma alma penada não é senão uma alma submetida ao Purgatório, no próprio local onde pecou. Quer seja um miliciano criminoso ou um monge infiel, Deus pode, pelo poder dos anjos, mantê-lo um certo tempo no nosso mundo. Dever-se-ia dizer antes, que é a própria alma, por causa de um apego excessivo à terra, que permanece como que “agarrada” ao lugar em que viveu, donde foi arrancada demasiado depressa, e que não se convence a ter de deixar. Trata-se, pois, de uma alma patologicamente apegada à terra, uma vez que se desviou voluntariamente da Luz que a veio buscar, apesar da sua beleza. Estes casos são, pois, bastante raros, porque bastante específicos de pessoas pouco esclarecidas. Deus deixa-as, o tempo necessário, até que se cansem. 

Não actua assim para castigar, mas com um objectivo pedagógico. Não podendo ser vistas pelos homens vivos (salvo caso excepcional), estando separadas do mundo dos mortos, a sua solidão é total. Se esta solidão dura vários anos, vários séculos, acaba por produzir uma viragem. A vaidade das coisas às quais estão apegadas, acaba por se lhes impor. Na sua terrível solidão, os espíritos dos pecadores, acabam por aprender pouco a pouco a vaidade dos bens da terra. Compreendem que o único bem é o Amor.

Mas estas almas podem ser ajudadas na descoberta deste caminho, pelos vivos que, se tomarem consciência da sua presença, podem rezar por elas e explicar-lhes o seu erro, e o caminho que lhes está aberto para o outro mundo. Para isso, Deus permite que as almas deste purgatório apareçam ou se façam ouvir pelos vivos. Elas têm dificuldade em faze-lo por si mesmas, de tal forma o corpo psíquico que lhes restou, está pouco adaptado a este tipo de contacto. 

A maioria das vezes, trata-se antes de uma ajuda de Deus e dos seus anjos. O fenómeno das almas penadas, quando se produz, não deveria nunca assustar. Como ter medo dessas almas que gritam os seus sofrimentos? A nossa resposta imediata deve ser, pelo contrário, a misericórdia. 

Deve rezar-se pelas almas do Purgatório. Alguns santos, canonizados pela Igreja, passaram toda a vida a oferecer-se por elas. Estas orações e sacrifícios oferecidos por elas, têm uma enorme eficácia: a alma penada fica comovida, como ficaria o mais solitário dos prisioneiros, que, pela primeira vez, recebesse uma carta. Este gesto é eficaz, de tal forma a alma tem sede: pode, diante da beleza deste gesto, compreender num instante a grandeza do Amor, e libertar-se da solidão. Passa então para um outro Purgatório, onde o sofrimento não mais é causado pela ausência de prazeres, mas pela ausência de Deus.

A fim de ilustrar este fenómeno, eis algumas histórias relatadas por santos: entre todas as revelações que cita S. Gregório Magno nos seus diálogos, escolheremos aquelas cuja autenticidade está ao abrigo de toda a contradição.

«Um peregrino do território de Rodez, regressando de Jerusalém, diz-se nos anais de Cister, foi obrigado pela tempestade a aportar a uma ilha vizinha da Sicília. Visitou aí um santo ermita que se informou do que dizia respeito à religião no seu país de França, e lhe perguntou, além disso, se conhecia o mosteiro de Cluny e o abade Odilão. O peregrino respondeu que os conhecia e acrescentou que lhe ficaria grato se lhe dissesse que interesse o levava a dirigir-lhe aquela pergunta. 

O ermita continuou: há aqui muito perto uma cratera de que vemos o cimo; em certas épocas, vomita com estrondo turbilhões de fumo e fogo. Vi demónios levar as almas de pecadores e lançá-las nesse precipício horrível, a fim de as atormentar por um tempo. Ora, acontece-me em certos dias, ouvir os maus espíritos conversarem entre eles e queixarem-se de que algumas dessas almas lhes escapam; murmuram contra pessoas de piedade que, pelas suas orações e sacrifícios, apressam a libertação dessas almas. Odilão e os seus religiosos são os homens que parecem inspirar-lhes mais medo. É por isso que, quando estiverdes de volta ao vosso país, vos peço, em nome de Deus, que exorteis os monges e o abade de Cluny a redobrarem as suas orações e esmolas para alívio destas pobres almas. 

O peregrino, quando voltou, cumpriu o recado. O santo abade Odilão considerou e pesou maduramente todas as coisas. Recorreu às luzes de Deus e ordenou que em todos os mosteiros da sua ordem, se fizesse todos os anos, no segundo dia de Novembro, a comemoração de todos os fiéis mortos. Tal foi a origem da festa dos fiéis defuntos.»

S. Bernardo, na vida de S. Malaquias, cita um outro traço. Este santo conta que viu um dia a irmã, morta há algum tempo. Cumpria o Purgatório no cemitério. Por causa da sua vaidade, dos cuidados que tinha tido com o cabelo e o corpo, tinha sido condenada a habitar na própria cova onde tinha sido enterrada e a assistir à dissolução do seu cadáver. O santo ofereceu por ela o sacrifício da missa, durante trinta dias. Expirado este prazo, voltou a ver de novo a irmã. 

Desta vez, estava condenada a acabar o Purgatório à porta da Igreja, sem dúvida por causa das irreverências no lugar santo, talvez porque tivesse desviado a atenção dos fiéis dos mistérios sagrados, para atrair a ela a consideração e os olhares. Estava profundamente triste, coberta de luto, numa extrema angústia. O santo celebrou de novo por ela, o sacrifício, durante trinta dias, e por uma última vez, ela apareceu-lhe no santuário, a face serena, radiosa, vestida com uma veste branca. O bispo soube por este sinal que a irmã tinha obtido a libertação.

Este relato constata o costume, universalmente em vigor desde os primeiros séculos da Igreja, de rezar pelos mortos, durante um período de trinta dias. Neste ponto, o cristianismo não fez senão seguir a tradição mosaica: “Meus filhos”, dizia aos filhos o patriarca Jacob no seu leito de morte, “enterrai-me na caverna de Mambré, que está na terra de Canaã”, e os netos de Isaac choraram o pai durante trinta dias. Pela morte do sumo sacerdote Aarão e do seu irmão Moisés, o povo renovou este luto de trinta dias. E o piedoso costume de rezar pelos defuntos durante todo um mês, tornou-se em breve uma lei da nação escolhida. S. Pedro, príncipe dos Apóstolos, ao que diz S. Clemente, gostava que se rezasse pelo alívio dos mortos, e S. Diniz, o Aeropagita, descreve-nos em termos magníficos, com que majestade os fiéis celebravam as exéquias.

Desde os primeiros séculos, a Igreja, em memória dos trinta dias de luto observados na lei mosaica, encorajou as orações durante um mês, após a morte dos fiéis.

Sem misturar, é importante constatar que certas teologias orientais explicam, da mesma forma, o fenómeno das almas penadas. O Livro dos Mortos tibetano, indica como é possível aos vivos, conduzirem as almas errantes a bom porto. Nesta tradição, explica-se a sua ligação com o nosso mundo por uma presença excepcional sobre a terra, para além do corpo físico, daquilo a que chamam o corpo astral[173]. Desta forma, é-lhes fácil explicar as manifestações das almas penadas. Tal perspectiva é perfeitamente admissível pela teologia católica.

O fenómeno das almas penadas é, infelizmente, para muitos, causa de terror mais que de amor. Lembremo-nos da reacção dos discípulos de Jesus, quando o viram aproximar-se caminhando sobre as águas: “Pensaram que era um fantasma e começaram a gritar”[174].

Não se devem tomar à letra todas as histórias de fantasmas, sem uma investigação aprofundada da parte das autoridades religiosas. Uma imaginação desenfreada pode inventar muitos fantasmas. Basta pôr uma criança no escuro para nos apercebermos. Verá sinceramente toda a espécie de monstros nas pregas duma cortina, toda a espécie de criminosos nos estalidos de um soalho. Os nossos antepassados supersticiosos, inventavam nos seus medos, monstros como o ‘Ancou’ com o seu carro (A Morte, na Bretanha), o vampiro sedento de sangue (Roménia), os ‘Troll’s’ e os duendes (Escandinávia). Todos os povos têm as suas crenças de criança.

Outra causa possível: Satanás

O fenómeno das almas penadas (alma humana infeliz) não deve ser confundido com o das casas que se dizem assombradas (Satanás). O Santo Cura de Ars, quando já era conhecido em toda a França, ouviu uma noite de inverno, estranhos barulhos na sua casa: pancadas nos tetos e nos móveis. Procurou em vão, mas não encontrou ninguém. Convencido de se tratar de alguém que procurava assustá-lo, chamou um robusto camponês da aldeia que veio estar com ele de vigília, em casa, na noite seguinte. 

Lá fora estava frio, e a neve caía em grandes flocos. Cerca da meia-noite, os barulhos ouviram-se de novo. Procuraram na casa, no sótão, mas não viram ninguém. Saindo, o Cura de Ars apercebeu-se que não havia nenhum sinal de passos, na neve. Chamou o camponês e mostrou-lhe: “Vai para tua casa, disse-lhe, não senão o gatázio (o demónio)”. 

A reacção do Santo Cura é para surpreender: assustado perante a eventualidade de um ladrão, tranquiliza-se quando se apercebe que a casa está assombrada pelo demónio.

O fenómenos das casa assombradas não se explica através de uma alma defunta, mas pelo demónio. Ora, o demónio, não vem nunca por iniciativa própria perturbar a paz exterior dos homens. Como no caso das possessões demoníacas[175] (controle do corpo de uma pessoa, pelo demónio), duas causas são possíveis:
1) O homem que chama, pela prática da invocação de espíritos. 

Não é raro que sessões de espiritismo, onde o demónio é chamado sem que ninguém dê conta, prolonguem os seus efeitos durante anos junto das pessoas que as praticaram: obsessão demoníaca (consciência viva de uma presença maléfica), possessão ou fenómeno de casas assombradas. Contaram-me o seguinte facto: um grupo de jovens praticava o espiritismo. Um deles teve a ideia de colocar sobre a mesa um pequeno espelho de toalete e de dizer ao espírito: “Se estás aí, parte este espelho”. Nada aconteceu. Ora, ao voltar a casa, os jovens descobriram com horror que todos os espelhos das suas casas respectivas, tinham sido partidos. Imaginam-se os efeitos de um tal choque sobre a paz dos seus imaginários.

Ao contrário do espiritismo, a feitiçaria[176] chama expressamente o demónio. Pactos de aliança podem ser feitos entre o feiticeiro e o demónio, cujo poder se torna, a partir desse dia, submetido aos desejos do homem. Nada impede que o feiticeiro possa fazer mal aos seus inimigos desta forma, mergulhando-os no medo.

2) Permissão de Deus: em casos muito mais raros, o fenómeno de casas assombradas (como o da possessão), pode produzir-se sem nenhuma intervenção humana, pela simples iniciativa do demónio, ao qual Deus deixa excepcionalmente a permissão de agir. A Bíblia testemunha estes fenómenos: “Havia outrora, no país de Ur, um homem íntegro e recto chamado Job.
Ora, no dia em que o Filho de Deus se vinha apresentar diante de Javé, Satanás também se apresentou no meio deles. Deus disse então a Satanás: “Reparaste no meu servo Job? Não tem quem o iguale na Terra”. E Satanás replicou: “É desinteressadamente que Job teme a Deus? Não abençoaste tudo quanto fez? Os seus rebanhos pululam no país”. “Seja, disse Yahve a Satanás, todos os seus bens estão em teu poder. Evita apenas pôr a mão sobre ele”[177].

No dia seguinte, Job ficou reduzido à miséria, mas não pecou contra Deus.

Esta permissão de Deus é excepcional. A maioria das vezes, o demónio limita-se a tentar-nos para nos fazer cair, mantendo-nos numa mediocridade habitual. O Cura de Ars foi um verdadeiro santo e, portanto, teve de sofrer ataques do demónio cada vez mais directos: depois destes primeiros barulhos na casa, conheceu a delação e a dúvida da sua honestidade (acusaram-nos de ser magro não por ascese, mas por excesso de deboche com mulheres). Conheceu, finalmente, a tentação do desespero (obsessão interior vinda do demónio). Santa Mariam, carmelita árabe, foi, por sua vez, submetida a uma verdadeira possessão demoníaca por autorização de Deus, em vista da sua educação na humildade. Marta Robin parece ter sido espancada pelo demónio até morrer (testemunho do Padre Finet). 

Outra causa possível: a telecinésia inconsciente
Simples pancadas numa casa ou, mesmo, a constatação de objectos que se deslocam sozinhos, não são suficientes para concluir que se trata de um caso de assombro demoníaco. Um enfermeiro de psiquiatria, contou-me um dia o seguinte facto: em Nova York, um café foi vítima de fenómenos inexplicáveis. As garrafas caíam sozinhas das prateleiras, os copos partiam-se sem que ninguém lhes tivesse tocado. O patrão estava à beira da falência. Decidiu mandar embora o empregado de café. Apenas este se tinha ido embora, os fenómenos cessaram.
Este rapaz era trabalhador, mas completamente fechado sobre si mesmo. Praticamente nunca falava e parecia vítima da solidão. Foi contratado por um outro café da cidade. Os copos e as garrafas puseram-se de novo a cair. Informado-se, o patrão mandou-o imediatamente embora. Estava feita a sua reputação e ninguém mais o querendo tomar ao serviço, partiu para um outro estado americano onde, sem dificuldade, encontrou trabalho. Os fenómenos reproduziram-se. Mas o novo patrão, curioso por natureza, era apaixonado pelos fenómenos paranormais. Pôs-se, pois, a observá-lo no trabalho. Um dia, enquanto servia, o rapaz voltou-se diante de uma fila de copos, que caíram um a um, à medida que ele passava. Não era permitida mais nenhuma dúvida: tratava-se de um extraordinário fenómeno de telecinesia[178] inconsciente. Este rapaz, doente de solidão, acumulava nele uma energia que esvaziava, sem se dar conta, desta forma. Não se tratava de uma possessão demoníaca, mas de uma telecinesia inconsciente.
A telecinesia inconsciente pode também produzir-se no sono. A pessoa desloca objectos da casa sem se dar conta, sem nenhuma intervenção demoníaca.

É, portanto, necessário que o psiquiatra e o exorcista se unam, antes de concluir que se trata de um fenómeno de casa assombrada. O diagnóstico conduzirá a um exorcismo ou a uma cura psiquiátrica, segundo o caso.

Fonte: extraído na íntegra da internet, do livro Arnaud Dumouch que ensina teologia católica na Bélgica, formado na escola de S. Tomás de Aquino e de Santa Teresa de Ávila. 
http://lesparanormaux.free.fr/livres/igrejaeparanormal.h  
Tradução: Maria do Carmo Silva, Janeiro de 2005

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