“ Ali foi posto à prova pelo diabo,
durante quarenta dias” (Lc 4, 1 )
A descrição de
São Lucas nos
mostra a tentação
do
demônio, da
qual nem o
Filho de Deus
estava livre. O
demônio tentou desmoronar o plano
de Deus. Três
tentativas e três negativas.
Jesus não se entrega às insídias
do
diabo. Por mais tentadoras, as
propostas do demônio não
o
convenceram. Estava exausto,
com fome, cansado.
Poderia ter colocado tudo a
perder e, no entanto,
colocouse acima de tudo. Não se
deixou vencer.
Afastou o demônio com determinação
e coragem:
“Não porás
à prova o
Senhor teu Deus!” (Lc 4,12).
A tríplice tentação de Jesus,
caracterizada pela tentação
do ter, do poder e do prazer, nos
revela a raiz de toda a
tentação. Somos tentados a ter, a
mandar e a gozar os
prazeres deste
mundo. O consumismo,
tentação do
momento, nos leva à busca do ter
sempre mais, a amontoar
riquezas e a nos transformar em
donos.
O poder, conseqüência do
ter, nos insinua
que tendo, podemos.
E a tentação do prazer, nos
convence de que tendo, podemos e, por isso, devemos.
O deus do ter: o dinheiro. O
sacrário? o cofre do banco.
Lembro-me da
história de uma
mulher que, no
dia de
finados, quando todos iam ao
cemitério, foi acender uma
vela na porta do Banco. Aos que
passavam, ela dizia: “meu
marido está enterrado aqui !”.
E o caso de uma outra que,
ao entrar no supermercado, fazia
o nome do Pai, quem
sabe para se livrar da tentação
de comprar o supérfluo.
Henry Fielding,
dramaturgo inglês, dizia:
“Se fizeres do
dinheiro o teu deus, ele te
atormentará como o demônio”.
E Vitor Hugo,
escritor de 'Os
miseráveis' tinha razão
ao
afirmar: “Dinheiro é bom, mas
certifique-se sempre quem é
dono de quem”.
O deus do poder: personificado no
trono e no cetro, o
poder é um deus vingativo. Usa e
abusa das coisas e das
pessoas. Manda e desmanda.
Recordo-me de uma frase
famosa de
Abraham Lincoln, Presidente
dos Estados
Unidos: “Se quiser por à prova o
caráter de um homem, dê-
lhe poder”.
O
deus do prazer:
eros. O mundo
tá ficando erótico.
Alguns, talvez exagerando, dizem
que estamos vivendo no
sexo XXI. Fizeram do erotismo uma
indústria. Altamente
compensadora, na
lógica de mercado,
e terrivelmente
destruidora no campo da moral e
dos princípios éticos.
O poeta e escritor argentino
Jorge Luis Borges dizia:
“Apaixonar-se é
criar uma religião
que tem um
deus
falível”.
Eis o temível e terrível tridente
de Netuno: o ter, o poder e
o prazer. Que Deus me livre
desses deuses. Amém!
Dom Paulo Sérgio Machado
Bispo Diocesano
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